Relembre como foi a Semana de Jornalismo de 2022
Data da publicação: 3 de junho de 2022 Categoria: NotíciasAs mesas, rodas de conversa e oficinas da 12ª Semana de Jornalismo (Sejor) da UFC debateram o tema “jornalismo ambiental” de 26 a 28 de abril de 2022
Por Lívia Nogueira, Fernanda Filiú e Guilherme Siqueira

Mediada por Rosane Nunes (à esq.), a mesa contou com Andreia Lopes, Catalina Leite e Maristela Crispim
A 12ª edição da Semana de Jornalismo (Sejor), evento organizado pelo Programa de Educação Tutorial de Comunicação (PetCom) da Universidade Federal do Ceará (UFC), teve início em 26 de abril de 2022 com a realização da mesa de abertura que abordou a responsabilidade do jornalismo na educação ambiental. Entre os temas debatidos, a programação tratou da importância de princípios questionadores em abordagens jornalísticas sobre pautas ambientais, da ampliação das discussões sobre sustentabilidade e suas extensões e da construção do jornalista como autoridade na área.
A mesa foi mediada pela professora do curso de Jornalismo Rosane Nunes e contou com a participação das palestrantes Andréia Lopes, diretora sociopedagógica do Instituto Verdeluz e membro do GEAD/UFC; Maristela Crispim, fundadora e editora-chefe da Eco Nordeste; e Catalina Leite, repórter do jornal OPovo.
“Nós, caminhando pelos penhascos, atingimos o equilíbrio das planícies. Nós, nadando contra as marés, atingimos a força dos mares. Nós, edificando nos lamaçais, atingimos a firmeza dos lajeiros. Nós, habitando nos rincões, atingimos a proximidade da redondeza. Nós somos o começo, o meio e o começo. Existiremos sempre, sorrindo nas tristezas para festejar a vinda das alegrias. Nossas trajetórias nos movem. Nossa ancestralidade nos guia”.
O trecho acima, da poesia de Nêgo Bispo, norteou as duas premissas defendidas por Andreia Lopes na discussão: a coletividade e a ancestralidade. Para ela, as problemáticas e negligências com o meio ambiente devem ser combatidas com forças coletivas, principalmente de comunicadores que têm espaços de manifestação e reverberação de histórias. A cientista ambiental também evidenciou o potencial preservador e defensor dos povos originários com relação aos territórios e seus respectivos recursos e complexidades.
Em sua fala, Maristela Crispim destacou elementos que estruturam produtos jornalísticos ambientais. A jornalista enfatizou a importância das relações com as fontes de informação, a contribuição do jornalismo de dados e a criticidade quanto aos agentes envolvidos. “A questão é: como impactar menos a natureza? E aí vem a nossa responsabilidade enquanto pessoas e a nossa responsabilidade especialmente enquanto jornalistas, porque o jornalismo é um ofício”, defendeu Crispim ao tratar da relevância da consciência de consumo como indivíduos e de produção enquanto comunicadores.
Já Catalina Leite frisou em sua participação o caráter intrínseco que a questão ambiental possui em relação aos outros setores sociais, como a politica e a economia. Para a jornalista, o comunicador deve sempre atentar para o olhar sobre o meio ambiente à luz de outros debates.
Segundo dia
A 12ª Sejor realizou, em 27 de abril (quarta-feira), sua segunda mesa, com o tema “Luta ambiental no Ceará”. Entre os temas debatidos, os convidados apontaram a urgência de mudanças nas políticas públicas voltadas ao meio ambiente e os impactos sobre as comunidades originárias gerados por projetos econômicos predatórios que vêm ganhando força nos últimos anos na região.

Compuseram a mesa Débora Melo (à esq.), Edgard Patrício, Beatriz Azevedo e Mateus Tremembé / Imagem: Guilherme Siqueira
Mediada pelo professor do curso de Jornalismo Edgard Patrício, a mesa contou com a participação de Beatriz Azevedo, ativista climática, advogada especializada em Direito Ambiental e Urbanístico e co-fundadora do Instituto Verdeluz; Débora Melo, ativista ambiental em prol da conservação de tartarugas marinhas, graduada em Oceanografia pela UFC e membro do Instituto Verdeluz; e Mateus Tremembé, agente ambiental indígena, pesquisador da cultura alimentar Tremembé da Barra do Mundaú e estudante de Agronomia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
Em sua fala, Beatriz Azevedo abordou a geração de energia no Ceará, destacando a mineração de urânio e fosfato em Santa Quitéria, a implantação de usinas offshore e o uso de termoelétricas no Pecém e suas consequências para a população local. Dentro de um contexto de crise climática, a ativista denunciou a situação, criticou o desenvolvimentismo predatório e ressaltou o papel do jornalismo como propulsor de informações sobre causas ambientais.
“É necessário se aprofundar nas contranarrativas e nas narrativas que mostram o outro lado desse suposto desenvolvimento”, defendeu a advogada.
Mateus Tremembé expôs a relação do povo indígena com a luta ambiental. Para ele, os impactos da narrativa desenvolvimentista e progressista são desastrosos e influenciam diretamente o modo de vida dessas populações. Complementando a fala de Beatriz, o pesquisador comentou sobre a inserção de usinas eólicas offshore na costa cearense.
“A energia eólica de hoje é renovável, mas ela não é sustentável, porque impacta diretamente o acesso ao território e a natureza”, argumentou.
Já Débora Melo encerrou o debate falando sobre a história do Instituto Verdeluz e sua relevância para a luta ambiental no Ceará, principalmente em relação à conservação de tartarugas marinhas e à proteção das dunas da Sabiaguaba. Ela também relatou a falta de um centro de atendimento de animais selvagens no estado, o que precariza o resgate e o tratamento deles.
“É motivo de vergonha para o estado [do Ceará], pois as organizações que se mobilizam para isso ficam desamparadas”, lamentou.
Oficina sobre pauta jornalística
Também nesta quarta-feira (27), a Sejor contou com a oficina “Ferramentas e fontes para pautas sobre jornalismo ambiental”, ministrada por Nícolas Paulino, jornalista do Sistema Verdes Mares. O ministrante conversou com estudantes do curso de jornalismo da UFC sobre os objetivos do jornalismo ambiental e a cobertura do tema no contexto cearense.

Nícolas Paulino é jornalista do Sistema Verdes Mares / Reprodução
Terceiro dia
A programação do dia 28 de abril (quinta-feira) teve início com uma roda de conversa sobre a produção jornalística diante de catástrofes socioambientais. O momento contou com a presença das jornalistas Alice Sales (Agência EcoNordeste), Sara Café (Instituto Verdeluz) e Sara Oliveira (jornal O Povo), com mediação do professor e vice-coordenador do curso de jornalismo da UFC, Robson Braga.

Da esq. à dir.: Robson Braga, Sara Café, Alice Sales e Sara Oliveira / Imagem: Lóren Caroliny
Em sua fala, Sara Café citou denúncias de crimes ambientais feitas pelo Instituto Verdeluz e que ganham repercussão na mídia e na sociedade. Entre os casos denunciados, estão o descaso com o ecossistema da Sabiaguaba, as ameaças às tartarugas marinhas no litoral do Ceará e o aparecimento de manchas de óleo por todo o litoral do Nordeste em 2019.
O derramamento de óleo no litoral nordestino também foi destacado por Alice Sales. “Esse foi o pior e maior caso de derramamento de petróleo cru no nosso litoral. Não só a natureza, tiveram também pessoas e vidas prejudicadas. É um caso que ainda nem sabemos quais consequências vão ter na saúde e segurança alimentar dessas pessoas”, reforçou a jornalista.
Sara Oliveira trouxe, em sua fala inicial, uma reflexão sobre a posição da informação sobre meio ambiente entre as áreas temáticas de um jornal. “O jornalismo ambiental perpassa diversas editorias de diversas formas. Existe um nicho específico [de jornalismo ambiental] e há uma demanda no jornalismo tradicional para isso, mas a verdade é que ele atravessa vários cadernos”, afirmou.
Sobre a segurança dos jornalistas durante a cobertura de pautas de enfrentamento, Sara Café e Alice Sales reforçaram a importância de se trabalhar em coletivos para o respaldo e a proteção dos colaboradores.
“Eu acho que estar em coletivo também é importante. Quando se está em coletivo, você conhece outras pessoas que têm seus mesmos conceitos, posicionamentos e lutas, e você entende que não está sozinho”, avaliou Café.
Jornal Impressões – Sustentabilidade
O último dia de programação também contou com uma roda de conversa sobre o jornal Impressões – edição Sustentabilidade. Mediada pela professora Eugênia Cabral, a mesa foi composta por Cindy Damasceno, Júlia Duarte e Ingrid Campos, que representaram a equipe que, em 2020, elaboraram o produto.

Com mediação de Eugênia Cabral (à esq.), estiveram presentes na mesa Cindy Damasceno, Júlia Duarte e Ingrid Campos / Imagem: Lóren Caroliny
Uma das produções mais tradicionais do curso, o jornal Impressões é o produto da disciplina do sétimo semestre Laboratório de Jornalismo II. A edição “Sustentabilidade” do jornal foi produzida em 2020, durante o período de isolamento social provocado pela pandemia de covid-19.
Professora responsável pela disciplina à época, Eugênia Cabral destacou o comprometimento dos estudantes ao trazer a perspectiva direta dos indivíduos afetados pelas pautas do Impressões. “Em nenhum momento, a turma se conformava em chamar o especialista e a associação para falar sobre essas pessoas [tratadas nas matérias]. Tinha que ter as pessoas; tinha que ter o personagem, era o momento de dar voz a essas pessoas que, normalmente, não são pautadas”, disse ela.
Sobre a produção, as convidadas relembraram a dificuldade de acesso às fontes no formato remoto. As editoras do Impressão – Sustentabilidade atribuíram à experiência uma grande carga de aprendizado e liberdade narrativa.
“Eu encerrei o Impressões tendo todo o respeito do mundo por todos os editores da terra. Foi uma das experiências mais malucas por que eu já passei do ponto de vista de trabalho. Eu ainda não tinha essa visão do processo de gerência por trás”, relatou Cindy Damasceno, egressa do curso que, atualmente, atua como jornalista do Valor Econômico.
O momento de conversa acabou com falas sobre as premiações do jornal produzido na disciplina. O Impressões – Sustentabilidade foi vencedor do Prêmio Gandhi de Comunicação, na categoria estudantil de “Mídia Impressa”, e vencedor da etapa regional da Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom), promovida pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom).